9788582452226

RESUMO: A obra é interessante para quem deseja conhecer uma abordagem sociológica de como os militares constroem a sua visão de mundo. Inicia por uma abordagem teórica, para sustentar a argumentação de que os militares não são todos iguais. Em seguida, surpreende pela riqueza de detalhes com que é analisada a vida dos militares e como eles interpretam a realidade. O último capítulo dá uma visão atual das relações dos militares brasileiros como mundo político e com a sociedade de um modo geral.

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COMO PENSAM OS MILITARES

A construção social da subjetividade dos militares

 

            Os milicos são todos iguais! Esta afirmação tornou-se quase um senso comum durante muito tempo. Deixando subjacente a dúvida se ela é dita com um sentido pejorativo de colocar indivíduos diferentes numa mesma cesta de preconceitos ou se é apenas baixa sensibilidade em perceber as marcantes diferenças que distinguem o militar da Marinha, do Exército e da Força Aérea.

            Ainda que exista a percepção de que há muito em comum no comportamento dos militares, não licencia a ideia de que eles têm reações iguais numa mesma situação, ao mesmo tempo em que não identifica as diferenças ou mesmo não aceita o fato de que o homem é um ente amarrado a teias de significados que ele mesmo tece no ambiente social em que vive.

            Desde logo, parece que, para se ter alguma chance de escapar ao objeto pré-construído pelos mitos criados, uma visão sociológica do grupo dos militares deve evitar o recurso fácil ao exotismo pré-fabricado da vertente pública e publicada da instituição, ou seja,  apreender os militares pelo lado menos conhecido e midiático: a pesada e lancinante rotina dos treinamentos, a longa e ingrata preparação para o combate, inseparavelmente física e moral, os ritos ínfimos e íntimos da vida em quartel, que produzem e reproduzem as crenças que alimentam a economia corporal, material e simbólica do mundo muito particular dos militares.

            O termo “milico”, em um enunciado histórico sobre o universo dos militares, constitui uma generalização enganosa que não leva em conta as diferentes maneiras de ser militar, variáveis no tempo, mas também de acordo com a história, os hábitos impostos pelos diferentes tipos de treinamento e cultura comum, construída dentro de cada força armada de acordo com o seu modus operandi.

            Mas, para compreender o que é o militar o autor procurou, antes de tudo, esquecer as suas teorias ou as suas construções, ou mesmo o que dizem dele seus apologistas; e, sim, observou o que os militares fazem, como eles se comportam em diferentes circunstâncias, o ambiente de trabalho, como são treinados, a maneira que se relacionam entre si, enfim, tudo aquilo que conformam o que se costuma denominar de cultura desses diferentes segmentos – o marinheiro, o soldado e o aviador.

Com esse propósito o autor realiza uma análise minuciosa de alguns elementos, como:

(1) o modo de vida de cada grupo;

(2) o legado social que o indivíduo adquire do seu grupo;

(3) sua forma de pensar, sentir e acreditar;

(4) o espectro de aprendizagem em comum;

(5) o conjunto de orientações padronizadas para a resolução dos problemas recorrentes da atividade fim de cada grupo;

(6) os mecanismos para a regulamentação normativa do comportamento; e

 (7) o conjunto de técnicas para ajustar o indivíduo tanto ao ambiente operacional como em relação aos outros companheiros[1]. Epistemologicamente, procurou buscar bases para conhecê-los e a maneira como eles se comportam e vêm a saber o que sabem.

             Entretanto, o autor coloca, em um sentido mais amplo, que existe uma fonte comum de onde verte a água que molda o caráter dos três tipos de militares (o marinheiro, o soldado e o aviador latus sensus): todos eles elegem e cultuam os mesmos princípios de hierarquia, disciplina, lealdade e honestidade de propósitos. Estes princípios alicerçam, nas respectivas instituições, as bases das suas particularidades, dos seus modus operandi peculiares, as quais passam a afetar o comportamento dos seus integrantes.

            Referindo-se às organizações militares, essa percepção é ampliada, porque a permanência dos indivíduos nos seus quadros e o compartilhamento cotidiano das mesmas dificuldades é mais prolongada, propiciando uma experiência coletiva muito intensa devido aos constantes e pesados treinamentos. Além disso, os valores institucionais são diariamente ritualizados, reatualizados, e as tradições e os seus heróis são lembrados em todos os momentos. Esse processo cognitivo que acaba se incorporando em cada membro do grupo, criando um estereótipo que padroniza os seus componentes e, ao mesmo tempo, os diferencia, é o objeto de exploração do autor.

            A pretensão inicial foi a de considerar como objeto de estudo os encadeamentos causais da vida militar, compostos de representações mentais e de representações públicas, e, paralelamente, explicar conjuntamente como as atitudes mentais dos militares os levam a modificar seu entorno e como essas modificações do entorno os levam a modificar seus estados mentais. Analisa, também, como esse “homem construído” se relaciona com a sociedade e o ambiente político da atualidade e interpreta as “ideologias” predominantes do pensamento dos militares.

            O texto, apesar de sua extensão, deve ser visto como um ensaio, impressionista no método de abordagem e provisório nas conclusões, sem nenhuma pretensão de cobrir todos os aspectos desse seu vasto e rico tema, oferecendo, basicamente uma panorâmica e instigando o debate.

Delano Teixeira Menezes

Autor  – Delano T. Menezes é Mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará.Graduado em Ciências Aeronáuticas pela Academia da Força Aérea, Especialista em Política e Estratégia pela Escola Superior de Guerra (ESG). Foi professor na Faculdade Católica de Fortaleza. É membro da Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED).

A obra encontra-se disponível em www.editorabarauna.com.br

[1] Kluckhohn, Clyde in Geertz, Clifford – A Interpretação das Culturas pg 4

 

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Postado por Gilvan VANDERLEI
Ex-Cabo da FAB – Atingido pela Portaria 1.104GM3/64
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