Marzo 4th, 2013 | Categoría: Geração Y |

Proibições

Qual é a diferença? Os odores e a temperatura penso num primeiro instante. Depois chegam os ruídos tão peculiares de cada lugar, o acinzentado do céu no inverno ou o tom escuro das águas de um rio que atravessa parte da Europa. O que é realmente novo? Continuo me questionando enquanto provo um sabor aqui ou estreito mãos neste lugar pela primeira vez. A música talvez, o som do metrô freando na parada, a neve que se amontoa nos lados da calçada, as flores de primavera que lutam para sair mesmo que lhes espere, talvez, a pior das geadas. Onde se localiza o estranho? Nos campanários das Igrejas que, a cada hora em ponto, parecem competir ou em certas casas que de tão antigas tornam de pouca idade as construções de Havana Velha

.Porém nem na profusão de automóveis modernos, nem no sinal wi-fi que permite a conexão a Internet quase por todos os lados situa-se a verdadeira novidade para mim. Tampouco nos quiosques cheios de jornais, nas prateleiras das lojas repletas de ofertas ou no cão que em meio ao corredor do metrô é tratado como dono e senhor da situação. O raro não é a amabilidade dos funcionários, a quase ausência de filas, as gárgulas de garras e dentes afiados que sobressaem das fachadas ou o vinho que espuma e que se toma mais para aquecer o corpo do que para desfrutar do paladar. Nenhuma dessas sensações de primeira vez ou quase esquecidas por uma década sem viajar são as que fazem a diferença entre a Ilha que agora vejo a distância e os países que visito nesta ocasião.

O principal contraste situa-se no que é ou não é permitido. Desde que desci do primeiro avião estou esperando que briguem comigo, que alguém saia e me advirta “isso não se pode fazer”. Busco com o olhar o segurança que virá me dizer “não é permitido fazer fotos”, o policial de rosto sombrio que gritará para mim “cidadã, identificação”, o funcionário que impedirá minha passagem por algum corredor enquanto sentencia “aqui não é possível entrar”. Porém não encontrei nenhum destes personagens tão comuns em Cuba. De modo que para mim a grande diferença não são os deliciosos pães com semente, a ausente carne bovina que agora regressa ao meu prato ou o som de outra língua nos meus ouvidos. Não. A grande diferença é que não sinto permanentemente sobre mim o sinal vermelho do proscrito, o apito que me surpreende em algo clandestino, a sensação constante de que qualquer coisa que faça ou pense poderia estar proibida.


Yaoni Sanchez

Geração Y é um Blog inspirado em pessoas como eu, com nomes que começam ou contem um ípsilon. Nascidos na Cuba dos anos 70 e 80, marcados pelas escolas rurais, bonequinhos russos, saidas ilegais e frustração. Assim é que convido especialmente Yanisleidi, Yusimí, Yuniesky e outros que carregam seus ípsilons para que me leiam e me escrevam.

Tradução e administração do blog em língua portuguesa por Humberto Sisley de Souza Neto

Fonte: Generation Y

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Postado por Gilvan Vanderlei
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