VENEZUELA – Opinião

Legado de Chávez: redução da pobreza, aumento da violência

O governo de Hugo Chávez, que propôs a criação de um novo socialismo, o do século XXI, conseguiu reduzir a pobreza e a desigualidade, mas foi também durante seu governo que a violência aumentou. E muito.

Foto: Juan Barreto/AFP

Postado por Toinho de Passira
Texto de Valéria Maniero, para o Blog de Miriam Leitão
Fonte: Blog de Miriam Leitão

A era Chávez termina com feitos contraditórios, como assim era o presidente que governava o país desde 1999. O governo de Hugo Chávez, que propôs a criação de um novo socialismo, o do século XXI, conseguiu reduzir a pobreza e a desigualidade, que caiu a um dos níveis mais baixos da região, segundo a ONU. Também adotou políticas sociais que ajudaram a melhorar a vida de muita gente, principalmente a dos mais pobres. Mas foi também durante seu governo que a violência aumentou. E muito.

Em 1998, antes de Chávez assumir, a taxa era de 20 homicídios por 100 mil, por ano, de acordo com o Observatório Venezuelano de Violência (OVV). No ano passado, foram 73 por 100 mil. Para ser mais exata, 21.692 pessoas morreram vítimas da violência em 2012.

Quando divulgou os tristes números do ano passado, a ONG escreveu que a Venezuela "continuava sendo um dos países mais violentos e inseguros do mundo".

Na economia, os erros não foram poucos. O país cresceu moderadamente, mas a inflação deu um salto. Segundo cálculos feitos pelo economista venezuelano Pedro Palma para o blog, entre dezembro de 1998 e novembro de 2012, acumulou alta de quase 1.500%. Isso equivale a uma inflação anual média de 21,3%. Para controlá-la, o governo tentou o velho e nada bom controle de preços, que acabou provocando desabastecimento. Também foi um governo que estatizou empresas e fez intervenções. Além disso, considerou que um dos "inimigos" era a imprensa, atacando veículos e jornalistas.

Em agosto do ano passado, fizemos uma coluna, perguntando a economistas e cientistas políticos venezuelanos o que era o "melhor e o pior da era Chávez". Na lista feita pelo economista Pedro Palma, entre os itens negativos, estava a insegurança, por causa do aumento da violência. Ele listou também a "destruição da estrutura produtiva, o desincentivo ao investimento privado, as expropriações ilegais de empresas privadas, o populismo e o estabelecimento de um regime ditatorial". Entre os feitos bons, Palma admitiu "a criação de uma consciência social na liderança política".

Para o analista político José Vicente Carrasquero, a chegada de Chávez ao poder elevou o interesse pela política entre os venezuelanos, o que é bom. Ele disse também que a adoção de programas na área da educação e saúde deram às pessoas a "sensação da inclusão". Entre as "piores coisas", a exploração da divisão política com uma linguagem bélica, com altos custos sociais e institucionais. Isso provocou, segundo ele, a perda de valores fundamentais da democracia, como o respeito às diferenças, a tolerância e o diálogo para a solução conjunta dos problemas.

O blog voltou a falar hoje com Carrasquero. Ele acha que se acontecer o que está previsto na Constituição, a Venezuela deve passar por esse momento traumático sem maiores inconvenientes. E se o desejo de Chávez for seguido à risca, como se espera, Nicolás Maduro, o vice-presidente que esta à frente do governo, deve ser candidato nas próximas eleições.

– Acho que ninguém vai se atrever a contradizer esse pedido do presidente hoje falecido.

Nas últimas eleições, em outubro, Hugo Chávez venceu o candidato da oposição, Henrique Capriles.

Com a morte de Chávez, a Constituição venezuelana prevê que o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, um dos homens fortes do governo, assuma o comando do país e convoque novas eleições em 30 dias. É o que diz a Carta, mas ela também já foi desrespeitada muitas vezes. Que não seja mais. E que a Venezuela consiga manter o melhor de Chávez, corrigindo os erros dos últimos 14 anos na política e na economia.

VENEZUELA – Notícia

A morte de Hugo Chavez, o presidente da Venezuela

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, morreu nesta terça-feira, após uma batalha de dois anos contra um câncer, encerrando o período de 14 anos do líder socialista no poder, disse o vice-presidente, Nicolás Maduro, em pronunciamento na TV.

Foto: Jorge Silva/Reuters

Duas semanas após retornar a Venezuela, depois de quatro cirurgias realizadas em Cuba, Hugo Chávez não resistiu, complicações do pós operatório e ao tratamento contra a cancere e faleceu na UTI do Hospital Militar, em Caracas, na tarde de hoje, 05/03

Em mais de uma ocasião, o presidente Hugo Rafael Chávez Frías disse que pretendia permanecer no poder na Venezuela até 2031. Na tarde desta terça-feria, contudo, as complicações advindas de um câncer na região pélvica abreviaram seus planos: Chávez morreu às 16h25, e com isso teve fim um governo que já durava 14 anos.

Junto com Chávez morre o chavismo, que mistura o pior do populismo, do ultranacionalismo, do caudilhismo e do ‘socialismo do século XXI’ – tão nefasto quanto o do século XX. A morte deixa um vácuo difícil de ser preenchido, já que nenhum sucessor tem a mesma ascendência sobre os membros do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e as Forças Armadas, nem o mesmo carisma para conduzir as massas.

Chávez morre aos 58 anos. No início de dezembro, ele viajou a Havana, Cuba, para submeter-se a quarta cirurgia para combater o tumor diagnosticado em junho de 2011 e que nunca foi tratado de maneira inteiramente transparente pelo governo venezuelano – nem mesmo a localização exata do tumor foi revelada.

Em 18 de fevereiro deste ano, após 71 dias de ausência, ele anunciou seu retorno à Venezuela pelo Twitter. No entanto, nenhuma imagem do coronel havia sido divulgada desde então. Ele estaria recebendo tratamento no hospital militar da capital, e nesta terça-feira o governo informou que seu estado de saúde havia sofrido uma piora após "nova e severa infecção".

A doença venceu um político que vendia uma imagem de invencibilidade e que tentou mantê-la até quando o agravamento de seu estado de saúde já mostrava que a realidade era outra.

O carismático Chávez deverá ser lembrando pelo estilo espalhafatoso – que causou a célebre reação do Rei Juan Carlos, da Espanha, num encontro de governantes: “Por que não te calas?” – e pela maneira como usou uma das ferramentas da democracia, as eleições periódicas, para desmontar instituições e concentrar poderes.

Ao longo de mais de seus anos no poder, ele criou uma milícia própria, manobrou para garantir resultados favoráveis em eleições, confiscou empresas, perseguiu opositores e a imprensa e submeteu a Justiça aos seus interesses.

ORIGENS

Nascido em 28 de julho de 1954, o segundo filho de dois professores da cidade venezuelana de Sabaneta, no oeste da Venezuela, chegou a pensar em se dedicar profissionalmente ao esporte mais popular do país, o beisebol. A mudança de rumo veio depois que entrou para o Exército, aos 17 anos, com o objetivo inicial de se mudar para a capital, Caracas, onde seu talento esportivo poderia ser mais facilmente reconhecido.

Acabou mergulhando no campo militar e foi um dos fundadores do grupo que ficou conhecido como Movimento Bolivariano Revolucionário – em homenagem ao líder da independência da Venezuela, Simon Bolívar. Começou então a organizar seus aliados para tomar o poder.

A tentativa de golpe fracassada contra o governo de Carlos Andrés Pérez, em 1992, resultou na morte de 18 pessoas e na prisão de Chávez. Depois de dois anos preso, ele foi perdoado pelo presidente Rafael Caldera e libertado em 1994.

Quatro anos depois, o coronel paraquedista assumiu o comando da Venezuela ao ser eleito com 56% dos votos. Diante de um cenário político marcado pela corrupção, Chávez apresentou-se como um representante das classes mais baixas que promoveria uma melhor distribuição da riqueza vinda do petróleo. De fato, a maior fonte de recursos do país financia os programas assistencialistas conhecidos como “misiones”, que consistem basicamente em uma fórmula para distribuir pequenas quantias de dinheiro aos beneficiários.

Há misiones de alfabetização de adultos, de cooperativas agrícolas, de atendimento médico e de venda de alimentos subsidiados, entre outras. Todas estabeleceram uma dependência entre a população pobre e a figura onipresente de Chávez.

O medo de perder os benefícios sociais ou um cargo público manteve a população fiel ao coronel, em um estilo de governo batizado por opositores de “medocracia”.

A suspeita de que o sigilo do voto poderia ser violado buscava alicerces em momentos como o verificado em 2004, quando aliados do presidente elaboraram uma lista com o nome de todos os venezuelanos que foram a favor da convocação de um referendo contra Chávez.

Além disso, ao longo de seus três mandatos consecutivos, outras irregularidades foram relatadas, como mesários votando no lugar dos eleitores ausentes ou permitindo que militantes chavistas acompanhassem eleitores na cabine de votação. Até sua saída de cena, as artimanhas foram alteradas, mas nunca eliminadas.

Fonte: PassiraNews

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Postado por Gilvan Vanderlei
Ex-Cabo da FAB – Vítima da Portaria 1.104GM3/64
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