Grupo de trabalho iniciou atividades no último dia 11, no Rio de Janeiro, colhendo o depoimento do brigadeiro Rui Moreira Lima, de 93 anos
Brigadeiro Rui Moreira Lima durante depoimento colhido na última sexta-feira (11).
Foto: Marcelo Oliveira / Ascom – CNV
Quando o golpe militar eclodiu, em 31 de março de 1964, a quebra da ordem institucional vigente, causada pela deposição do presidente João Goulart, legalmente no poder, não foi aceita por unanimidade nos quartéis. Várias vozes se levantaram na caserna e militares que se opuseram ao golpe foram cassados, perderam salários, patentes ou foram presos por expressarem sua discordância.
Afim de recuperar essa história, a Comissão Nacional da Verdade criou um grupo de trabalho para apurar as violações de direitos humanos sofridas pelos militares que se opuseram ao golpe militar. O grupo é coordenado pelo ex-procurador geral da República Cláudio Fonteles e terá a colaboração dos membros Rosa Cardoso e Paulo Sérgio Pinheiro.
As atividades do GT começaram na última quinta-feira (11), no Rio, com a colheita do depoimento do brigadeiro Rui Moreira Lima, de 93 anos, herói da 2ª Guerra Mundial, que participou de 94 missões com aviões de caça na Itália. Lima contou aos membros da Comissão Nacional da Verdade José Carlos Dias e Rosa Cardoso detalhes da repressão sofrida por ele e outros colegas de farda que se opuseram ao regime. Especialistas no tema também já estão sendo ouvidos pela CNV para indicar informações sobre essa linha pesquisa.
Em seu depoimento, Moreira Lima também foi questionado a respeito dos antecedentes do golpe. Para ele, o grupo que tomou o poder à força era uma minoria dentro das Forças Armadas. Perguntado se a tese apresentada no livro "1964 – O DNA da Revolução" (dos ex-oficiais Jônathas de Barros Nunes e Gastão Rúbio de Sá Weyne), que afirma que todo o golpe foi engendrado por cerca de 300 oficiais, o brigadeiro não teve dúvidas: "não li o livro, mas os autores devem estar com a razão. Foram poucos".
ANTECEDENTES DO GOLPE
– "Esse golpe de 64 veio andando, andando", afirmou o brigadeiro, lembrando seguidas quebras da ordem institucional, como a junta militar que, em 1961, assumiu o poder enquanto o cargo de presidente ficou vago após a renúncia de Jânio Quadros, uma vez que João Goulart estava em visita oficial à China.
Moreira Lima foi preso três vezes: a primeira delas em 2 de abril de 1964, quando o brigadeiro foi deposto do comando da Base Aérea de Santa Cruz, pois Moreira Lima se opôs ao golpe. "Vários colegas foram presos, acusados de serem comunistas. Sempre prenderam os comunistas, desde 1930. Eu trabalhei com comunistas, na Petrobras, mas sempre fui um homem de pensamento livre. Em 64, eu fui o primeiro a ser preso que não foi os de sempre", afirmou.
Depois de ser processado, ser preso mais uma vez em 1964, e ser aposentado compulsoriamente, Moreira Lima partiu para iniciativa privada. Trabalhava com patentes em 1970, quando foi seqüestrado por uma equipe da Policia do Exército a serviço do Doi-Codi. "Quando cheguei lá, meu filho Pedro já estava sequestrado. Ordenei que ele fosse embora", disse o brigadeiro.
O filho foi liberado, mas o brigadeiro ficou três dias preso sem acusação formal, numa cama de três pernas, com colchão fino e equilíbrio precário, o que lhe causou privação do sono. "Foi tortura", afirmou o filho. "Quando eu precisava fazer necessidades, era vigiado por um soldado o tempo todo, apontando uma metralhadora", contou Moreira Lima.
Ao todo, Moreira Lima afirma que ficou 200 dias preso nos três episódios de prisão, dois em 1964 e o de 1970, além de constantes ameaças de prisão e convites para "visitar" dependências do setor de inteligência, além do constante monitoramento que causava terror à família e vizinhos.
Além do depoimento, gravado em áudio e vídeo pela Comissão Nacional da Verdade, o brigadeiro Rui Moreira Lima entregou à CNV cópias de documentos relacionados aos processos e prisões que sofreu durante o regime militar.
"Esperava muito do depoimento do brigadeiro e ficou comprovado que muitos militares sofreram violências em razão da Ditadura", afirmou o membro da Comissão Nacional da Verdade José Carlos Dias. "O depoimento do brigadeiro certamente fará parte do relatório final da Comissão e abriu vários caminhos para a investigação do GT que apurará as violações de direitos humanos sofridas por militares que se opuseram ao regime", disse Rosa Cardoso.
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por Océlio G. Ferreira
Ex-Cabo da FAB – Vítima da Portaria 1.104GM3/64
E-mail ocelio.g@ig.com.br
3 Comentários do post " 15/10/2012 – Comissão Nacional da Verdade investigará perseguições sofridas por militares que se opuseram à Ditadura "
Follow-up comment rss or Leave a TrackbackA medida que essa comissão for prosperando na apuração dos fatos, o tempo vai passando e nós continuamos esperando que tudo seja esclarecido; e o tempo não para, somente nós ficamos parados eperando que lembrem-se de nós que continuamos excluidos nessa história conturbada que é a anistia dos Cabos da FAB afastados de suas funções por uma Portaria que atropelou a Lei do Serviço Militar, a Constituição que já não estava mais sendo repeitada e os direitos individuais nas decadas de sessenta, setenta e porte de oitenta.
JORGE BATISTA PEÇANHA
Ex-Cabo da FAB – Vítima da Portaria 1.104GM3/64
E-mail pecanha@sentandoapua.com.br
Terça, 16 de Outubro de 2012 – 12:00
Comissão da Verdade começa a apurar crimes cometidos contra militares que se opuseram à ditadura militar Fechar:
O primeiro a ser ouvido foi o brigadeiro Rui Moreira Lima
A advogada afirma que os processos que envolvem militares perseguidos levam muito mais tempo para ser analisado do que os processos de reparação dos civis perseguidos durante a ditadura. Rosa Cardoso ainda apresenta dados de militares que foram prejudicados pelo golpe. Segundo ela, entre 1964 e 1974, 1.312 militares foram punidos, conforme o cientista político Marcos Figueiredo identificou. A advogada, com base nos estudos de Maria Helena Moreira Alves, afirma que entre 1964 e 1967, em três anos, houve mais de 1.200 expurgos, disse. Rosa, ainda com base no estudo de Maria Helena, observa que entre 1964 e 1980, houve um total de 4.766 prisões ou suspensões disciplinares de militares. A Comissão pretende, até o fim de novembro, fazer uma reunião com o maior número possível de ex-militares que tenham sido prejudicados pelo golpe de 1964.
Oras, ocorreram muitos outros casos nos anos 80 e eu fui um deles quando disse para dois oficiais, entre eles meu ex-Cmd que o Figueiredo estava errado ao criar a Lei de REserva de Mercado de Informática, pois isso atrasaria o país. Também falei sobre o arrocho salarial da época.
Conheci um Sgt que foi preso por "liderar um motim", pois ele sempre estava falando do arrocho.
Como disse em um outro post, eu fui obrigado a assinar meu desligamento, pois ambos negaram meu pedido de reengajamento e rasgaram o pedido.
Dalilo Sérgio Gomes Rosas
serggom007@yahoo.com.br
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